As causas do
desenvolvimento moral segundo as diferentes teorias evolutivas
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Nenhuma das grandes teorias
evolutivas desenvolvidas durante o século XX deixaram de se perguntar por que e
como as pessoas desenvolvem uma consciência moral. De maneira bem esquemática,
estas foram suas respostas:
Psicanálise
As crianças pequenas são amorais: não têm inibições e o seu id está
orientado para a obtenção do prazer. Por processos que foram explicados no
Capítulo 1, logo aparece o ego como instância encarregada de canalizar os
desejos de forma socialmente aceitável ou de adiar sua satisfação. Entre os
três e seis anos, desenvolve-se o superego, consciência moral interiorizada uma
vez aceita a primazia do princípio de realidade sobre o princípio do prazer.
Teorias da Aprendizagem
Também, neste caso, o desenvolvimento da consciência e o comportamento
moral são explicados como um processo de interiorização, embora os mecanismos
envolvidos sejam sensivelmente diferentes aos da psicanálise. A ênfase aqui
está, por um lado, nos processos de condicionamento e de aprendizagem via
reforço de condutas e normas, por outro, na aprendizagem que se realiza por
meio da observação de modelos, principalmente daqueles que a criança percebe
como dotada de autoridade e prestígio.
Teoria Piagetiana
Em vez de explicar o desenvolvimento moral como um processo de fora
para dentro, como as duas teorias anteriores, a explicação piagetiana o entende
mais como um processo de dentro para fora. Neste caso, o desenvolvimento do
raciocínio moral é um derivado do desenvolvimento do pensamento lógico, não
sendo observadas mudanças importantes na forma de raciocinar moralmente
enquanto não se produzir avanços no raciocínio lógico mais geral. Autores que,
como Kohlberg, desenvolveram as proposições piagetianas iniciais compartilham o
postulado básico de que o desenvolvimento cognitivo, assim como a crença na
universalidade da sequência de estágios proposta.
Teoria Vygotskyana
Como todos os processos psicológicos superiores, o raciocínio moral
está mediado por instrumentos simbólicos, como a linguagem e as formas de
discurso. Como consequência da comunicação social e do diálogo com aqueles que
os rodeiam, as crianças vão sendo capazes de um diálogo moral interno que não é
senão a transposição intrapsicológica das conversações e dos diálogos mantidos
com outros. Por isso, o desenvolvimento moral é entendido aqui como uma
construção sociocultural (e, portanto, referente ao contexto em que se origina)
e não como um processo de construção individual elaborado em relação ao
desenvolvimento cognitivo.
COLL,
MARCHESI, PALACIOS & COLS. Desenvolvimento
Psicológico e Educação. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
p.207